“FALAR QUE O TEMA DA REDAÇÃO DO ENEM É DE ESQUERDA É ASSUSTADOR.”
As provas do Enem que os estudantes prestaram dia 25 em outubro de 2015 causaram uma enorme polêmica. “O tema da redação “foi:” A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira.”
Apesar do tom neutro do enunciado o tema juntamente com uma questão do dia anterior se tornou o centro de uma discussão na internet sobre a questão de gênero, que acabou polarizada como uma disputa entre esquerda e direita.
Profissionais que trabalham diretamente com a questão da violência contra a mulher condenaram esta polarização e acharam importante a escolha do tema, pois o fato de ele ser discutido no campo da educação ajuda a chamar atenção sobre o assunto, que está presente no cotidiano da sociedade brasileira. Ele permite ao jovem pensar sobre a situação e também levar a discussão para casa.
Para Lívia é “É assustador falar que o tema da redação foi de esquerda”. Que direita é esta que considera tratar da violência contra a mulher é assunto de esquerda? Segundo ela a questão da violência contra a mulher é uma questão de direitos humanos, que está muito além do feminismo. A violência se dá, porque vivemos em uma sociedade violenta que objetifica a mulher.
Salma, enfatiza que a violência contra a mulher é responsabilidade de toda a sociedade. A prova do Enem nos ajuda a enfatizar que é principalmente na educação que vamos poder mudar esse problema que é cultural. A violência acontece dentro da escola, dentro da própria família.
A questão da mulher está acima de disputa eleitoral.
Ela está em todas as classes sociais.
Lívia salientou que a prova tem uma significação maior, porque foi em uma semana de derrota. Naquela quarta-feira, teve a aprovação do projeto de Eduardo Cunha, na Câmara, que tira os direitos da mulher já conquistados e um discurso pedófilo.
Nas redes sociais, o tema causava polêmica desde o fim da tarde de sábado, quando a prova de ciências humanas trouxe uma questão elaborada a partir de um texto de Simone de Beauvoir, tratando da questão de gênero. Muitos internautas e parlamentares condenaram uma suposta “doutrinação de gênero” na prova. Afirmaram que a prova foi feminista.
Tudo isto, esta polêmica descabível mostra o quanto uma grande parte dos brasileiros está alheia aos problemas gritantes que avassalam a sociedade de nosso país.
Suely Braga
