A Trilogia da Longevidade – Por Carlos F. Jungblut

A Trilogia da Longevidade - Por Carlos F. Jungblut
Carlos F. Jungblut

I-Laços

Preste atenção. Se você acha que o segredo da vida é cuidar de si, prepare-se para uma grande surpresa. Isso mesmo, e não falo sozinho, estou amparado pela ciência.

Autocuidado é importante, longe de mim dizer o contrário. Mas o destaque está na importância que as relações interpessoais apresentam quando o assunto é longevidade. Quem nunca ouviu que “o humano é um ser social”, “ninguém é uma ilha”, “precisamos uns dos outros”, etc…

É verdade, pode parecer piegas, mas nesse caso a voz do povo é a voz de Deus.

Para quem está na “meia idade” – como eu, no auge dos 42 – uma pergunta costuma ser feita: O que preciso fazer para ter uma vida longa e produtiva? Isso é com certeza muito difícil de responder. O número de pesquisas, assim como o de respostas improváveis, é quase incontável. Para clarear isto, vamos nos socorrer de quem resistiu ao teste do tempo.

Para tanto, nada melhor que revisitar um dos mais longos estudos sobre a vida adulta, promovido pela Harvard University. Iniciado em 1938, acompanhou um grupo de 268 homens para encontrar quais fatores estariam associados a uma vida longa e saudável. Com o tempo, o trabalho obviamente ganhou relevância, foram incluídos homens e mulheres descendentes dos primeiros participantes, gerando um banco de dados absolutamente único.

A avaliação dos resultados apresentou associação entre longevidade e controle adequado do peso, atividade física, reduzido ou nenhum consumo de álcool ou tabaco. Esses fatores são bem conhecidos e não surpreendem. Mas você sabia que há uma forte associação entre a felicidade nos relacionamentos interpessoais  e a longevidade? Pois um dos diretores do estudo, Dr Robert Waldinger afirmou: – “O achado surpreendente é que nossos relacionamentos e quão felizes estamos neles tem uma influência poderosa na nossa saúde”; e mais, ele ainda afirmou que “as pessoas que estavam mais felizes nos relacionamentos aos 50 anos de idade chegaram mais saudáveis aos 80”. Relacionamentos saudáveis se mostraram preditores de envelhecimento saudável mais poderosos do que classe social, capacidade intelectual  ou mesmo herança genética.

Mas o melhor ficou para o final. Você tem um amigo que vive reclamando do casamento? tem sim, todo mundo tem (se não for você… ). Pois bem, peça a ele para ir se acostumando com a idéia. A união conjugal faz bem! e tanto para a longevidade como para o funcionamento cerebral. Aqueles que sentiam-se seguros no casamento passaram com menos dificuldade por períodos de instabilidade emocional e dor física, tiverem menos quadros depressivos e foram agraciados com um efeito protetor na memória e saúde mental.

Seguindo essa linha, vale a pena conhecer as idéias da pesquisadora Susan Pinker, que inclusive já esteve em Porto Alegre falando sobre o tema. Em sua busca para entender o porquê de algumas regiões abrigarem pessoas mais longevas, ela conheceu a “zona azul” (denominação para localidades com longevidade superior a 100 anos) da Sardenha – Itália –  onde encontrou na vida social e nas relações interpessoais o fator preponderante para uma sobrevida tão alta. Afirma inclusive que “isolamento social é o risco de saúde pública de nosso tempo”, destacando que a interação por aplicativos de internet não substitui a riqueza dos encontros face a face. Para quem ficou curioso, sugiro acessar uma palestra sua gravada para o grupo TEDTalks pelo link http://youtu.be/ptIecdCZ3dg. Vale cada um dos 16 minutos de duração.

O entendimento desses estudos, assim como de diversos outros na literatura médica, demarca a importância da sociabilização em nossas vidas. Para não parecer que estou exagerando, recorro novamente às palavras do Dr Robert Waldinger:

-“Solidão mata. Ela é tão poderosa quanto tabagismo ou alcoolismo”.

As evidências são claras. Trabalhos comunitários, serviços voluntários, sentir-se importante na comunidade e poder ajudar os outros faz bem. Jantar com os vizinhos, ir ao cinema ou socorrer aquele amigo “atrapalhado” também. Jogar carta, sair para dançar, ir a eventos idem. Não importa o seu estilo, manter relacionamentos saudáveis e ser importante para os outros é uma das melhores maneiras de cuidar de você. Cuidar do outro é cuidar de si, cuide daqueles que cuidam de você e não deixe o laço afrouxar, pois ele fará sua vida melhor.

A Trilogia da Longevidade - Por Carlos F. Jungblut

Carlos F. Jungblut
Médico Ortopedista
Mestre em Cirurgia pela UFRGS
Atual Presidente da Sociedade Gaúcha de Ortopedia e Traumatologia (SBOTRS)

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