As diversas faces do mal – por Jayme José de Oliveira

Jayme.1-150x150111111O fascínio do mal está no poder que às vezes ele proporciona. Quando pessoas, autoridades ou corporações extrapolam seu poder em benefício próprio estão praticando a essência do mal.

Quantos pró-homens que são expoentes nacionais, ou mesmo mundiais, passariam pelo crivo duma auditoria em seus bens? A PEC da reeleição, o mensalão e o petrólão desnudaram o despudorado saque que sangrou e sangra o país moral e monetariamente a ponto do governo não poder honrar seus compromissos e ter de se valer de “contabilidade criativa”, eufemismo de calote institucionalizado. Ah! Mas para que tudo isso ocorresse foi necessário que corruptos, corruptores, agentes de fiscalização e gerenciamento das contas públicas se mancomunassem.

Sua Santidade o Papa Francisco, no encontro com o Patriarca Bartolomeu afirmou:

“O processo de cura também necessita incluir a busca pela verdade. Não para que sejam abertas velhas feridas, mas como meio para promover a justiça e a unidade”.

Não falou em reviver as velhas discórdias que levaram à mútua excomunhão em 1.054, mas pura e simplesmente em encerrar o litígio.

Nelson Mandela sofreu 27 anos no cárcere, com trabalhos forçados. Quem mais poderia, ao sair, encetar um tsunami de vingança? Não! Protagonizou uma cruzada de integração e, como resultado a África do Sul, ao contrário dos países da Primavera Árabe, singra em mares se não totalmente tranquilos, navegáveis.

Outra face do mal, esta insidiosa e por conseguinte difícil de ser percebida é quando o Mal utiliza parte do Bem para não apenas se justificar mas, pior, camuflar a maldade sob aparência de bondade. A parábola do lobo em pele de cordeiro é emblemática. A expressão “lobo em pele de cordeiro” tem origem numa frase de uma parábola de Jesus, proferida no Novo Testamento: “Cuidado com os falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores”(Mateus 7:15-20).

Não sou fã de Paulo Coelho, mas, como leitor compulsivo, por vezes o faço.

Num de seus livros, descreve a jornada do Profeta doutrinando um discípulo. Atravessavam o deserto quando este aponta para um vulto distante.

– Mestre, veja lá, o demônio deixou cair algo na beira do caminho.

– É um pedaço da Verdade.

– Então, se ele está espalhando a Verdade, ao contrário do que pensamos, também está a serviço do Bem.

– Ao contrário, ao dividir a Verdade em fragmentos e espalhá-los pelo mundo tenta provocar a intriga, as guerras, a intolerância e a confusão. No caos que isso origina aumenta o número de prosélitos. Cada um que encontrar um pedaço da Verdade pensará estar de posse do todo e defenderá a “sua Verdade” contra todas as outras, também Verdades, que julgará mentiras.

Quando se fragmenta a Verdade em parcelas, todos se julgarão possuidores do todo e lutarão pela supremacia de sua versão por todos os meios, sem medir as consequências. É o princípio do caos.

Finda a I Guerra Mundial, os vencedores impuseram, em 1.919, o Tratado de Versalhes assinado no Salão dos Espelhos do palácio homônimo. As condições eram tão draconianas que desembocaram na II Guerra Mundial. Ao final desta, a contragosto dos demais aliados, os EUA implantaram o Plano Marshall que permitiu as reconstruções da Alemanha, da Itália e do Japão.

A Alemanha, mercê o labor de seu povo e as condições supervenientes à hecatombe se reergueu, derrubou o Muro de Berlim e hoje é uma pujança mundial.
Qual o melhor caminho par encerrar uma guerra?

Se formos escarafunchar nossas mágoas, nossos filhos e os filhos dos nossos filhos continuarão se odiando e retalhando.

Prefiro dar um ponto final!

Podemos não concordar qual seria a maneira mais consentânea para o entendimento, porém, quando possuímos convicções arraigadas, não convencemos ninguém nem permitimos sermos convencidos. Se é um direito inalienável manter posições, e é, laborar para uma convivência possível é mais compatível com o futuro.

Fiquemos com nossas parcelas de verdade e admitamos as de outrem.

Sabe moço

Leopoldo Rassier

“Sabe, moço,
Que no meio do alvoroço
Tive um lenço no pescoço,
Que foi bandeira pra mim.
Que andei em mil peleias,
Em lutas brutas e feias,
Desde o começo até o fim.
Sabe, moço,
Depois das revoluções
Vi esbanjarem brasões,
Pra caudilhos, coronéis.
Vi cintilarem anéis,
Assinatura em papéis,
Honrarias para heróis.
É duro, moço,
Olhar agora pra história
E ver páginas de glórias
E retratos de imortais.
Sabe, moço,
Fui guerreiro como tantos
Que andaram nos quatro cantos,
Sempre seguindo um clarim.
E o que restou?
Ah, sim,
No peito em vez de medalhas,
Cicatrizes de batalhas,
Foi o que sobrou pra mim
Ah, sim,
No peito em vez de medalhas,
Cicatrizes de batalhas,
Foi o que sobrou pra mim”.

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Jayme José de Oliveira – cdjaymejo@gmail.com

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