Bate papo exclusivo com um dos ícones do Surf gaúcho, o porto-alegrense Giovanni Mancuso

O SURFMANIA tem a alegria de trazer aos leitores um exclusivo bate papo com um dos ícones do Surf gaúcho, o porto-alegrense GIOVANNI MANCUSO, que contará um pouco de sua história neste esporte, seja como competidor, e como dirigente.

1) Nome completo.
Giovanni Mancuso

2) Idade ( será que terá resposta?? não vale mentir, rs…).
Essa é fácil: 43 (44 em setembro)

3) Quando o surf entrou na tua vida.
Aos 12 anos – há 31 anos!

4) Fale um pouco sobre os campeonatos de surf, vitórias, derrotas,  participações etc.
Se quiseres uma dissertação, f….! O que posso te dizer é que sempre tive o “vírus da competição”   no meu sangue. Desde pequenininho quando participava de campeonatos  de judô (fui vice-campeão estadual), de basquete (um dia eu tive a  mesma altura dos meus colegas!) e de skate (antes de começar a  surfar, era um skatista dedicado – cheguei a conquistar um vice-campeonato estadual no vertical). Portanto, começar a competir no surfe foi uma coisa natural. Minha conquista mais significativa, foi o campeonato gaúcho – o Terceiro Circuito Renner, em 1987. Talvez o período mais competitivo que o nosso estado já tenha vivido. Por isso a importância deste título. Tive que vencer muita gente boa para conquistar aquele circuito. Tinha estabelecido a meta de ser campeão estadual e conquistei-a. Todas as conquistas que vieram depois foram em ritmo de desaceleração, quando gradualmente fui mudando as prioridades na minha vida e o surfe foi aos poucos tornando-se apenas lazer. Não lembro de derrotas marcantes. Na verdade sempre fui um ótimo competidor, no sentido de saber aceitar as derrotas. Saber aprender com elas. E talvez por isso eu tenha conquistado tantos títulos.

5) Em quem você se inspirou no início da carreira?
Sem dúvida, nos surfistas famosos – aqueles que eu via nas revistas e nos filmes.

6) Ídolos que você não esquece?
Completando a resposta anterior: Mark Richards lá no início. Tom Curren mais tarde. E para não me limitar aos gringos, cito como grande fonte de inspiração, quando comecei a competir, o Geraldo “Boto” Ritter. Grande pessoa. Local da praia de Atlântida e um super  competidor.

7) Melhor campeonato?
Terceira etapa do terceiro Circuito Renner de Surf em 1987, em Torres. Ganhei na superação. Não lembro de outra bateria de campeonato onde eu tenha tido tanta fome de vencer. Quando lembro daquela bateria final, chego a sentir um pouco daquela sensação. Aquela gana durante a bateria e depois, ao ouvir o resultado, o sentimento de realização.

8) Melhor onda da tua vida?
Por incrível que pareça, em Tramandaí, num mar de nordeste, com corrente, mexido e chuviscando. Um tubo muito fundo, escuro e com um  lip muito grosso. Coloquei no instinto e sai com um spray me batendo nas costas que chegou a machucar. Obviamente não foi a onda mais  linda que já surfei. Mas foi, sem dúvida, um tubo impossível que eu  consegui completar.

9) Melhor praia?
Silveira, 20 anos atrás. Hoje? Tramandaí, sem dúvida. Perto e confortável.

10) Pode falar um pouco sobre as tuas participações no mundo do surf, fora dágua?
Nos anos 90, trabalhei como gerente de marketing e chefe de equipe da Brasil Surf. Foi um período muito gratificante, pois além de ganhar experiência profissional, participei da construção de uma das maiores empresas de surfwear do Brasil à época. Além disso trabalhei nos bastidores dos (etapas do Circuito Brasileiro) Brasil Surf/Renner. Além disso, desde que parei de me dedicar às competições, sempre me  envolvi trabalhando como uma espécie de conselheiro das gestões da Federação Gaúcha de Surfe. Sempre procurei dar a minha contribuição, ora participando ativamente de reuniões, ora criticando, de maneira  privada ou pública, através das colunas que mantenho em dois sites ligados ao surfe e também no meu blog.

11) Como era o surf quando você iniciou?
Muito bacana, apesar de crú. Surf Shop tínhamos apenas uma em todo o estado! E dentro dela, meia dúzia de calçoes, algumas camisetas, duas ou três pranchas e mais alguns acessórios. Em compensação, tinhamos os picos vazios para nós, mas não fazíamos a menor idéia do quanto isto era importante. Imagine surfar uma Silveira clássica sozinho, com mais dois amigos. Pois é. Tramandaí? Se não estávamos no veraneio, era garantido que tínhamos as ondas apenas para nós. Filmes de surfe só quando algum amigo alugava um super 8 e assistíamos projetado na garagem de alguém. Ou então quando rolavam as clássicas sessões de filme no auditório do IPA. “Toda” galera do surfe gaúcho se juntava para a ocasião e “quase” lotava os 40 lugares!!! Campeonato? Rolava um ou outro, só no verão e em Torres. Os juízes  eram amigos da “panela” e garantiam a “mamaezada” para os mesmos de sempre. Revista? Quando algum parente ia ao Rio de Janeiro, trazia a Brasil  Surf. Ou então, com um pouquinho de sorte, encontrávamos uma Surfer  na banca do aeroporto. Mas eram bons tempos. E se eu afirmar que dava muito mais onda  naquela época, por favor, não pense que estou exagerando. Dava!

12) Alguma frustração no mundo do surf?
Só alegrias. Fico triste em ver que a coisa piorou muito de 1987 para  cá. Os atletas gaúchos vivem uma realidade que me dá pena. Mas a  resposta é esta. Só tive e só tenho alegrias com o surfe.

13) O surf no Rio Grande do Sul se igualará algum dia com Rio São Paulo e Santa Catarina?
Pois é. Em 1987, a realidade é que estávamos ali, ali com os caras.  Um ano antes eu havia ficado em segundo lugar num confronto amador  entre a equipe catarinense e a gaúcha, com uma etapa realizada em  Torres e outra na Joaquina. O Felipe Silveira, por volta da mesma  época, fez a final e acho que ficou em segundo no Marambaia – Brasileiro Amador realizado na Joaquina. Eu fiquei em 17º por dois anos consecutivos no OP Pro, na Joaquina. E considere que estes eventos amadores, naquela época, tinham por volta de 500 inscritos! Depois de nós, vieram o Sandro Neto e o Pedra e mais tarde, o Daison Pereira. O Pedra e o Daison ainda estão representando o RS – muito  bem, por sinal. Mas e a renovação? Acredito que com um trabalho sério e bem organizado, a gente pode chegar lá outra vez. Mas vai demorar.

14) Para você quem foi o melhor surfista no Estado?
É difícil. Vou falar sem pensar muito, citando alguns nomes em ordem cronológica, cada um na sua época: Caio Chaves Barcellos, Felipe Silveira, Rodrigo Dornelles e sempre (antes e depois), Paulo Sefton.

15) O melhor de todos..
Rodrigo Dornelles, porque levou o surfe gaúcho para a história do surfe mundial e porque na minha opinião é o melhor surfista, tecnicamente falando, que este estado já produziu.

16) Mesmo morando em POA, Você é um dos grande divulgadores de Tramandaí. Qual é a sua relação com esta praia?
Na verdade eu aprendi a surfar e permaneci surfando em Imbé por muito anos, antes de “atravessar a ponte”. Ocorre que por conta de uma  namorada que veraneava do “outro lado” comecei a frequentar o pico e, como percebi que as ondas eram melhores e mais fortes ali, virei assíduo. Peguei alguns dos melhores mares da minha vida ao lado dos pilares da plataforma. Como diz um amigo meu, “vi os bracinhos da  plataforma crescerem”. Me apeguei ao lugar e não tenho do que me queixar. Gosto do pico. As ondas são boas e eu posso afirmar que conheço cada centímetro quadrado da área. Já viajei para alguns picos fantásticos fora do país e me peguei com saudades de Tramandaí. É assim, uma relação meio doentia de paixão pelo feio. De atração pelo torto!

17) Como é dividir o surf com o trabalho e a família? É possível?
Totalmente! Só requer organização. Nos finais de semana, quando estamos na praia, levanto por volta das 06 horas e vou surfar. Quando está bom para pegar praia, isto é, pouco vento e bastante sol, volto para  casa a tempo de tomar um café com a família e irmos juntos para a praia. De segunda a sexta, surfe é só na internet e no papel.

18) Surf é…………..?
Respondo em ordem alfabética…? Surfe é um esporte sadio,  prazeiroso, relaxante, realizante, complementar, terapêutico, que faz  bem para a alma. É uma parte de mim.

19) Já brigou com alguém dentro d”água?
Muitas vezes. Principalmente quando era mais jovem. Sabe pelada de futebol? O cara te diz que foi falta e tu responde que não foi e se instala uma discussão? Para mim sempre foi assim. Quando termina a partida, volta tudo ao normal. Mas o problema é que dentro dágua as pessoas não encaram assim e eu tenho muita sorte de nunca ter  apanhado. Com a idade e a convivência com a minha filha, aprendi a ser mais controlado e também percebi que existem certas coisas pelas quais não vale à pena se estressar.

20) Curtes que tipo de som?
Não curto metal, 90% de MPB (incluindo aí os pagodes e os bondes de  todos os tipos) e “playba”. O resto depende do momento. De clássica a  rock”n”roll, o que vier eu traço!

21) Um conselho para aqueles que estão iniciando no surf.
Aprenda a subir na prancha na espuma, na beirinha, antes de atravessar a arrebentação. Use uma prancha grande porque é mais fácil  e porque vai lhe dar um estilo mais bonito. Aprenda o código de ética do surfe antes de sentar no pico e querer disputar todas as ondas. Comece devagar. Não exija demais de si mesmo. Tenha paciência. Seja observador. Aprenda com quem sabe. Eu fiz tudo isto quando comecei.

22) Para você, surf é estilo, esporte ou modo de vida?
Esporte e modo de vida.

23) Sua opinião sobre o futuro do surf no estado.
Depende dos “timoneiros”. O surfe gaúcho hoje está em boas mãos, isto  é, o presidente da FGS é uma ótima pessoa, muito bem intencionado e sério. Só acho que ele está cometendo o velho erro de esquecer que os competidores são a minoria dos surfistas. A FGS deveria focar também nos 95% dos surfistas que não competem. No dia em que a Federação Gaúcha de Surfe conseguir atuar como uma entidade que representa os  surfistas gaúchos e não os surfistas competidores, o esporte aqui neste estado, começara a caminhar a largas passadas.

24) Uma mensagem aos leitores da coluna SURFMANIA.
Espero vocês lá no blogue: www.giovannimancuso.blogspot.com  Um grande abraço!

Comentários

Comentários