Convictos - Jayme de OliveiraPONTO E CONTRAPONTO– por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 CONVICTOS

Livre arbítrio – “Possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento”.

Convicção– “Crença ou opinião firme, inarredável, a respeito de algo com base em provas, razões íntimas ou como resultado da influência ou persuasão de outrem”.

O livre arbítrio permitiu à humanidade escolher seus caminhos e disso resultou em última análise a civilização. Chegamos ao que somos porque assim o decidimos. Houve percalços no caminho, enveredamos por vezes – e ainda o fazemos – por caminhos tortuosos que envergonham os que com isenção estudam a História.

Escravidão, a “Santa Inquisição”, guerras fratricidas, crime organizado, terrorismo e outros que tais se incluem no contexto do passado, alguns subsistem.

A convicção pode ser a antítese do livre arbítrio, é o resultado da influência persuasiva de outrem ou de um contexto predominante. Conduz frequentemente a crenças dissociadas do bom senso e podem nos levar a cometer atos destituídos de racionalidade. Acreditar nas aleivosias incutidas por quem tem influência suficiente para tal. Pode ser uma autoridade ou uma crença entranhada ao extremo. Um homem-bomba, por exemplo, tem de ser convicto. Quem acredita nas “Guerras Santas” também. Ouvir um alto dirigente dizer que é o homem mais honesto do Brasile acreditar nisso só um convicto, quem afirma que seu líder é o Messias redivivo é também um convicto.

Outra maneira de espraiar as convicções é a “grenalização” que campeia solta, bolsomínions e petralhas são convictos antípodas.

O perigo é que essa dicotomia nos direciona para um comportamento mais próximo do ódio que da solidariedade, anos-luz afastado da razão. Uma forma autodestrutiva de agir, de se comportar, de votar. Não elege um candidato pelo que ele é, opta pelo que ele não é! Elegeu Bolsonaro porque é a antítese de Lula e elegeu Lula porque não suportava os Sarneys e Collors da vida.  Era tão arraigada essa aversão que nem levaram em conta Itamar-FHC, representantes do meio termo, que inclusive domaram a inflação (2.477,15% ao ano em dezembro de 1993 – IPC).

A Síndrome de Estocolmo explica como uma pessoa sequestrada, torturada e mantida cativa, em vez de execrar seus captores passa a se considerar parte do bando, se apaixona por elemento componente do mesmo, algo completamente incompreensível para alguém normal. Patrícia Hearst, milionária, em 1974 foi vítima do mais famoso episódio da Síndrome de Estocolmo. Aderiu ao Exército Simbionês de Libertação e, inclusive, participou ativamente de assaltos a bancos até ser presa, julgada e condenada a sete anos de prisão. Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos mandou suspender a pena de reclusão.

Instigante um estudo sobre uma Síndrome de Estocolmo, que afeta pessoas, muitas, a ponto de se comportarem como admiradoras incondicionais de Governantes não merecedores de estima, muito ao contrário.

O então presidente Collor anunciou, em 16 de março de 1990, que as poupanças seriam confiscadas. Na prática só seria permitido sacar até 50 mil cruzados novos. Qualquer quantia acima desse limite ficaria retido por 18 meses. Os bancos permaneceram fechados por três dias e a medida agravou ainda mais uma crise econômica já existente. O país enfrentava uma inflação fora de controle. Os bancos ficaram fechados por três dias e a medida agravou mais ainda uma crise econômica já existente, o país enfrentava uma inflação fora de controle.

Apesar de ter perdido os direitos políticos por oito ano, o eleitorado de Alagoas, convicto, o elegeu como senador em 2007, 2015 e 2019.O ex-presidente Fernando Collor usou o seu Twitter nesta segunda-feira (18/05/2020) para pedir desculpas pelo confisco da poupança realizado no seu governo.

Ante o temor da repetição de atos dessa natureza, em 2001 foi votada a Emenda Constitucional 32/2011, que em seu Art. 62 estipula que é vedada edição de medidas provisórias sobre a matéria. Medidas extremas que visem detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer ativo financeiro dependem de aprovação do Congresso Nacional.

Mas, e há sempre um mas, em 2012 o Banco Central alterou a remuneração das poupanças brasileiras durante o governo da presidente Dilma Rousseff… e perpetrou-se mais um ataque aos planos de poupança dos que pretendiam um futuro mais confortável após a aposentadoria. Vamos aos fatos:             Os rendimentos da Caderneta de Poupança até 03 de maio de 2012 eram de 0,5% ao mês (6,12% ao ano), mais Taxa Referencial, livre de Imposto de Renda.                                                                Era um porto seguro para você e milhões de brasileiros.                                                                                        O que mudou com a MP 567, de 03 de maio de 2012? Apenas um detalhe, que faz toda a diferença.                                                                                                                                                                          A regra agora é condicional.                                                                                                                                     Com a taxa de juros da economia (Selic) acima de 8,5%, a Poupança continua rendendo 0,5% ao mês + TR, equivalia a 6,17% + TR.                                                                                       Com a Selic de 8,5% para menos, a rentabilidade cai para 70% da Selic + TR (= a zero). Com a Taxa Selic atualizada em 3%, o rendimento da caderneta de poupança anual se reduz a2,1%, abaixo da inflação.Perda de 4,O7% anual + a TR não zerada. Tem de ser muito convicto para suportar sem ressentimento.

Ante uma situação tão desfavorável aos pequenos poupadores, apenas a eles, visto que os juros cobrados pelos bancos continuam estratosféricos, só resta dizer:                                                                   “Que o universo se cale e me ouça falar” (Jean-Jacques Rousseau). 

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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