Depois de tudo – Jayme José de Oliveira

Depois de tudo - Jayme José de OliveiraNos oceanos de muitos mundos as moléculas eram destruídas pela luz e remontadas pela química. Um dia, fruto dessas experiências naturais, surgiu por acaso uma molécula que era capaz de uma reprodução grosseira de si mesma.

O MOMENTO CULMINANTE NA HISTÓRIA DO UNIVERSO, A VIDA ENSAIAVA SEUS PRIMEIROS PASSOS.

Com o passar do tempo essa replicação se tornou mais precisa. As moléculas que replicavam melhor produziam mais cópias, a seleção natural estava em curso, máquinas moleculares elaboradas estavam se desenvolvendo. Lenta e imperceptivelmente a vida evoluía.

Coletores de moléculas orgânicas evoluíram para organismos unicelulares, estes produziram colônias multicelulares e suas várias partes se tornaram órgãos especializados. Algumas colônias prenderam-se ao fundo do mar, outras nadaram livremente. Desenvolveram-se olhos e agora podem ver. Seres vivos saíram do meio líquido para colonizar a terra.  Os répteis dominaram por um tempo, cederam lugar para pequenas criaturas de sangue quente com cérebros maiores, que desenvolveram a destreza e a curiosidade sobre o seu meio ambiente. Elas aprenderam a usar ferramentas, o fogo e a linguagem. A matéria estelar tinha chegado à consciência, o homo sapiens assumiu o planeta e se prepara para explorar o Universo.

Aquele ser frágil, indefeso, sem garras, sem presas, sem couraça protetora parecia destinado à extinção, mas… possuía cérebro – a mais impactante maravilha do Universo – e virou o jogo. Elucubrava ante os obstáculos e descobria como contorna-los; sua curiosidade impelia para investigar as causas, os efeitos e encontrava soluções. A insatisfação não aceitava derrotas e, cedo ou tarde, HEUREKA! Cortava o Nó Górdio se não pudesse desatá-lo. Júlio Verne muitos séculos depois afirmou: “Tudo o que um homem pode imaginar outro homem realizará”.

O homo sapiens inventou a roda e a locomoção se tornou possível com menor esforço. O remo, a vela, a máquina a vapor (James Fulton), motores de combustão interna, nucleares… continuamos procurando sempre o mais e o melhor. Irmãos Wright-Santos Dumont nos deram asas. Frank Whittle, inventor inglês e oficial da Força Aérea Real, desenvolveu o conceito do motor a jato em 1928, enquanto Hans vonOhain, da Alemanha, desenvolveu o conceito de forma independente no início dos anos 1930. O pouso na Lua em 1969 não teria sido possível sem Werner vonBraun, para realizar seu sonho de alcançar o espaço e pousar na Lua se valeu dos princípios usados para criar o foguete V2, durante a II Guerra Mundial.

AGORA O CÉU É O LIMITE.

AGORA NADA PODE NOS DETER.

SERÁ?

O organismo frágil é o “calcanhar de Aquiles”, ponto fraco de quem se arvora onipotente. Defrontou-se desde sempre com adversários minúsculos, os vírus, e a batalha não admite tréguas.

Vencido o primeiro obstáculo, Louis Pasteur descobriu o soro antirrábico e subsequentemente a vacina. São diferentes. A vacina de cultivo celular que gradativamente vem sendo implantada na rotina da prevenção da raiva humanaimuniza preventivamente. O soro contra raiva ou soro antirrábico contém imunoglobulinas específicas extraídas do plasma de cavalos hiperimunizados com a vacina contra raiva etem efeito mesmo após o contágio. Descoberta a técnica de obtenção, surgem outros em sequência. O coronavírus – COVID-19 – está nos infligindo derrotas em toda a parte onde aparece e ainda não sabemos como evita-lo com vacinas nem como derrota-lo com medicamentos. Mas, lembrando Júlio Verne, encontraremos o antídoto e mais uma vez sobreviveremos.

Se o combate aos vírus se manifesta difícil, porém viável, uma ameaça mais perturbadora,a proteína príon infecciosadescoberta no início da década de 1960 por Stanley Prusiner juntamente com outros pesquisadores, causa as Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis para as quais não existe, até o momento,terapêutica eficaz.

A primeira molécula replicante referida no início da colunaainda não era um ser vivo, antes de atingir este estágio evoluiu para uma proteína, o príon, menor que um vírus. Príons são encontrados nas células nervosas de todos os mamíferos, têm o poder de reprodução apesar de não terem vida. Já os príons alterados, patogênicos, são encontrados em cérebros contaminados pela Encefalopatia Espongiforme Transmissível(EET),a Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é uma doença neurodegenerativa caracterizada por provocar uma desordem cerebral, com perda de memória e tremores. A doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é um tipo de Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET) que acomete os humanos. As EET são chamadas assim por causa do seu poder de transmissibilidade e suas características neuropatológicas que provocam alterações espongiformes no cérebro das pessoas (aspectos esponjosos).

Apesar de que várias propostas terapêuticas terem sido estudadas, nenhuma até o momento foi efetiva para alterar a evolução fatal da doença.

A doença da vaca louca(Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) pode ser transmitida para humanos, conhecida cientificamente como doença de Creutzfeldt-Jakob, pode se desenvolver de três formas diferentes: a forma esporádica, que é a mais comum e de causa desconhecida, a hereditária, que ocorre devido à mutação de um gene, e a adquirida, que pode resultar do contato ou ingestão de carne de vaca contaminada ou de transplantes de tecidos contaminados.

Esta doença não tem cura, pois é causada por príons patogênicos, proteínas anormais que se instalam no cérebro e levam ao desenvolvimento gradual de lesões definitivas, provocando sintomas comuns à demência que incluem dificuldade para pensar ou falar, por exemplo.

Um detalhe preocupante é o fato de a doença poder ter causa iatrogênica,como consequência de procedimentos cirúrgicos (transplantes de dura-máter e córnea) ou por meio do uso de instrumentos ou eletrodos intracerebrais contaminados e que não podem ser esterilizados por autoclave, os príons são resistentes ao calor.

CONFIEMOS NO NOSSO CÉREBRO, VENCEREMOS MAIS ESTA AMEAÇA.

Príon patogênico é um agente infeccioso composto por proteínas com forma aberrante. Tais agentes não possuem ácidos nucleicos (DNA e/ou RNA) ao contrário dos demais agentes infecciosos conhecidos (vírus, bactérias, fungos e parasitas).

P.S.: A coluna já estava produzida quando Nelson Luiz SperleTeich foi nomeado Ministro da Saúde, substituindo Luiz Henrique Mandetta. Tragédia? Devagar com o andor que o santo é de barro. O discurso do novo titular não aponta para um “cavalo-de-pau” na rota. Com toda a diplomacia que o momento exige, sinalizou que a quarentena será aliviada. Só não especificou a velocidade nem a rota a ser seguida. Esperamos que a tecnicidade e o bom senso preponderem. O futuro do Brasil e, consequentemente o nosso, dependem intrinsecamente do acerto nas decisões a serem tomadas a curto, médio e longo prazo.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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