“Diálogos” – Sergio Agra

“Diálogos” - Sergio Agra Ah, finalmente apareceu. Fico feliz em ver você.

Não vejo razão alguma para toda essa alegria e felicidade!

Por que não? Afinal, eu lhe esperava há tanto tempo para uma conversa, fraterna de grandes amigos e camaradas…

Virastemuçulmano para todo esse salamaleque?

Apenas uma questão de cavalheirismo e cordialidade entre irmãos, dois amigos tão íntimos, afinal…

Amigos? Íntimos? Está viajando na maionese? Está fora da casinha? Nunca considerei você um grande, quanto mais íntimo amigo. Você jamais teve a curiosidade em saber do meu trabalho, das minhas viagens ao exterior, dos meus gostos…

E alguma vez você permitiu que isso acontecesse? Você apenas agrada a quem possa lhe servir e…

Que presunção, fazer juízo de valor sobre meus atos.Ora!

Como se fossem eles grandes coisas!…

Agora é você quem está ofendendo!

Aháaa! Então reconhece que estava fazendo o mesmo comigo?

Não reconheço coisa alguma! Foi você quesem qualquer aviso prévio invadiu minha privacidade!

Não, em absoluto! Jamais pretendi invadir essa privacidade. Muito antes pelo contrário; sempre estive à disposição para lhe ouvir e aconselhar…

Aconselhar? E eu sou alguém que necessite de conselhos? Ora, nunca subestime a inteligência de um virtuose como eu! Sabe muito bem dos meus talentos…

E eles são reconhecidos?

Forças ocultas sempre conspiraram contra mim, puxando-me o tapete…

E você já se perguntou o por quê?

Inveja dos outros, por eu ser culto, mais inteligente do que eles!

Você é como disse Dona Fátima: Inteligente, sim! Culto, também! Mas “chatinho”!

Quem é Dona Fátima?

– Aquela ouvinte que ligou para o programa da Rádio perguntando se você se imaginava na bancada do ManhathanConection.

No mínimo uma vetusta senhora que adora reclamar para o prefeito dos buracos de sua rua,dos filhotes de gato e decachorro abandonados e dos pombos que invadem o seu pátio. Se bem que pombos merecem mesmo ser “estourados” com fécula para sagu!

Sagu para os pombos?

Sim! E aí, um…, dois… e três!  “Pum”! Rararará! Eles “já eram”!

Sua mãe estava certa quando dizia que você tinha um quê de sádico!

Ela já está com mais de 100, esclerosada, o que esperar dela?

A voz da sabedoria que vem deles: teus avós, teus pais…

Ah, tá, só me falta essa: ter que ouvir um relatório fajuto sobre minha árvore genealógica!

De sua mãe? De seu pai?

Ó, “Pedro Bó”! De quem mais estamos falando, mentecapto?

Sim, tem razão! Isso que não falamos dos filhos.

Onde entram meus filhos nesse lero-lero?

Eles procuram você, se aconselham, confidenciam, falam de projetos, viagens, ligam para dizer que amam você e sentem saudades, que você não é apenas necessário mas, para eles, você temum significado?

Ora, os filhos… Você sabe bem, eles são do mundo! Nós os criamos, educamos, eles crescem, dão-nos um pontapé na bunda, batem asas, voam e fazem suas escolhas. Ai de quem ousar criticá-los.

Os sentimentos não se vergam ao nosso simples querer. Ou eles são, ou não existe nada! Se eles inexistem, mascaram-se em condescendentes e frias gentilezas…

Como você é presunçoso! Não apenas isso, arrogante, soberbo, petulante, vaidoso, egoísta… Se se descuidar ao passar pelo umbral da porta irá faltar espaço para a humildade!

Calma, meu irmão! Muita calma nesta hora!

Diga-me uma única razão para que eu fique calmo!

Você ainda não se “antenou” que há mais de cinco minutos está falando com um espelho e não aprendeu nada?…

Cai o pano!

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