Elas sim, são nossos Anjos de Guarda – Por Sergio Agra

Sérgio Agra Escritor – Autor dos livros “Mar da Serenidade”, O Corpo de Gioconda” e “Ryujin, o Dragão Mágico
Sérgio Agra Escritor – Autor dos livros “Mar da Serenidade”, O Corpo de Gioconda” e “Ryujin, o Dragão Mágico
Sergio Agra Escritor – Autor dos livros “Mar da Serenidade”, O Corpo de Gioconda” e “Ryujin, o Dragão Mágico

Dona Elsa ver-se-á, doravante, na iminência de adquirir expressivo número de pares de tamancas para fustigar as dubiedades do governador, das gafes e do quiproquó de alguns poucos do seu staff.

Para quem ainda a desconhece, Dona Elsa, a veneranda e vigilante signora, é la mamma do governador Sartori, a quem o cartunista Iotti, com inigualável talento a “retratou”, com a tamanca em punho, repreendendo o dileto rebento, por ocasião da controvérsia primeira del figlio pródigo, ao sancionar o próprio reajuste e aos dos apaniguados deputados e secretários estaduais. Ato contínuo, o mandatário, comme buonfiglio, voltou atrás e renunciou ao benefício.

Seriam cômicas não fossem trágicas essas gafes que, salvo melhor juízo, se prenunciam praxe de – oremos! – poucos componentes da novel administração. A tragédia ocorrida na terça-feira, 10, em Capão da Canoa, que vitimou o menino argentino, Thiago Baez Cichanowski, de três anos de idade, ao despencar da sacada no terceiro pavimento de um hotel, apresentando quadro grave com politraumatismo, cujos atos subsequentes ao acidente parecem a isso induzir.

A demora na transferência trouxe novas incertezas sobre a continuidade do serviço aeromédico do Estado. Thiago teve de ser transferido para a Capital. Entretanto, o atendimento levou uma hora e quinze minutos a mais do que o habitual, por impasse envolvendo o convênio entre Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Brigada Militar (BM) e prefeitura de Imbé.

A pediatra do Hospital Santa Luzia, de Capão da Canoa, e integrante da equipe aeromédica, Dra. Rossana de Carli, teve de insistir para obter com sucesso a transferência da criança. A decisão de acompanhar o paciente para monitorar seu estado de saúde foi tomada por conta e risco da profissional, quando percebeu que não haveria equipe para a viagem. Isso porque, para a Central de Regulação do Samu, o grupo aeromédico de Imbé não existe mais. Ela teve que insistir para trazer pessoalmente o menino. “Só consegui porque me responsabilizei e tive apoio da Brigada”, finalizou a médica.

Há duas semanas o secretario da Saúde, João Gabbardo, afirmou que o trabalho realizado desde 2012 por 15 médicos e enfermeiros com apoio da BM era “totalmente dispensável” e que o serviço seria desativado. No dia seguinte, recuou e declarou que o convênio seria mantido, mas que o grupo seria substituído por outro sem dedicação exclusiva e vinculado diretamente à Secretaria Estadual da Saúde.

Segundo o ex-coordenador estadual do Samu e chefe do serviço aeromédico, Maicon Vargas, a equipe vinha sendo “boicotada” pela Central de Regulação, que não autorizava os voos e os repassava para terceirizados. Diante da dificuldade, Vargas dispensou a equipe no sábado, após consultar a Secretaria de Saúde de Imbé, “para evitar pagamentos extras”.

Não obstante, o governador José Ivo Sartori embarcou em um helicóptero da Uniair rumo ao Litoral Norte, mesmo sem ter compromissos oficiais na agenda, para, em alegre convescote, saborear suculenta feijoada.

Ilegal não é, mas chama atenção pela contradição entre o discurso de austeridade e a prática.

O que nos consola e nos deixa menos inseguros é a certeza de que, enquanto o senso de justiça das sábias tamancas de Dona Elsa Sartori e o desprendimento e amor ao próximo da Dra. Rossana de Carli conservarem a capacidade de se indignar, temos dois poderosos Anjos de Guarda.

Sergio Agra
agraeagra@terra.com.br
Escritor – Autor dos livros “Mar da Serenidade”, O Corpo de Gioconda” e “Ryujin, o Dragão Mágico

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