Eu sou o início, o meio e o fim…

Eu sou o início, o meio e o fim…
(Com o pensamento em Raul Seixas)

Após três anos, dei-me ao direito de retornar a Balneário Camboriú. As saudades dos amigos de praia, do papo alegre e descontraído, do meio da manhã até o entardecer, regado por generosas caipirinhas de vodka e intermináveis latinhas de cerveja, já se faziam sentir. Passear pelo Calçadão, com seis quilômetros de extensão, revestido de pedras portuguesas com motivos marinhos em policromia, ricamente arborizado e ornado de alegres e variadas floreiras era um exercício há muito exigido. Escolherei, dos mais de cem espalhados pela Avenida Atlântica, qual o barzinho, com mesas na calçada, que há de me regalar com a música certa para a ocasião e um saboroso camarão ao palito, prazeres que nem mesmo um mastercard da vida paga.

Em meio a esses deleites haverá, no entanto, o silêncio no apartamento, a ausência do riso solto e das piadas – tantas vezes sem graça – do Lúcio, meu sogro. Rememoro nossos almoços das quintas-feiras, com os amigos de copo e de sempre, na Praia de Laranjeiras, os jogos de bocha e de dominó, do qual sempre fui um mau parceiro, sem, no entanto, que ele perdesse a paciência.

Talvez por essas remembranças quedei-me triste, melancólico. Aliás, de alguns dias para cá, ando assim, depois da releitura do poético e, no entanto, perverso, O caçador de pipas escrito pelo afegão Khaled Hosseini. O romance narra a história de um garoto rico de Cabul, que é atormentado pela culpa de ter traído seu amigo de infância, filho do empregado do seu pai. Os poetas, permitimo-nos viajar ao universo da tristeza, sobretudo agora, em que nos aproximamos do Natal e do Ano Novo. Esta é, sem dúvida alguma, como com muito oportunismo nos diz o psicanalista gaúcho Abrão Slavutzky, uma época que demanda alguns cuidados especiais, pois traz consigo antigas questões: onde e com quem passar o Natal e o Reveillon? É o mês no qual os deprimidos sofrem mais, a tristeza cresce com o sentimento de solidão e a recordação de amores perdidos. Há mais melancólicos e tristes que alegres no mundo, mas são estes últimos (os alegres) que puxam a humanidade. Não sei dizer bem para onde. Os deprimidos dizem que para o fundo do abismo, já os otimistas estão confiantes de que seja para um mundo melhor.
Quem está com a razão? Ambos os grupos, mas com um bom desconto, é claro. Muitas vezes estas personalidades tão diferentes se casam e conseguem diminuir seus excessos.

O otimista tem dificuldade em aceitar o princípio da realidade. Ele é ingênuo ao esperar o impossível e depois fica frustrado até passar o desânimo e em seguida torna a pensar na vida como uma bela e emocionante aventura. O pessimista, por sua vez, tem resistência às ações entusiásticas, dramatiza seu cotidiano, transforma o infortúnio comum num sofrimento neurótico.

O mais difícil num final de ano, muitas vezes, são as perdas dos familiares ou de amigos que estarão ausentes nas festas. Nosso primeiro e grande referencial dos festejos natalinos é exatamente o grupo familiar: avós, pais, tios, primos. A lei natural da vida, no entanto, impõe a partida de alguns, e aquelas referências, então, se diluem e restam, apenas, saudades.

Se este ano que ora se encaminha para o seu final foi bom você está de parabéns. Caso contrário, não se esqueça que poderia ter sido bem pior.

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