GETÚLIO

No último dia 24 de agosto completou 66 anos que Getúlio Vargas suicidou-se. O tiro não acertou apenas o peito do presidente. Acertou o povo trabalhador, e, também, conteve um golpe de Estado pronto para ser executado, cujo sucesso se daria dez anos depois.

Getúlio, ainda que não se perca a visão critica da sua trajetória, foi o único estadista do nosso período republicano. A obra social deixada por ele, a preparação do Brasil para a entrada no processo industrial, a luta pela preservação dos anseios nacionais é um legado que hoje se esfarela por conta dos dois últimos presidentes canhestros.

Getúlio foi revolucionário. Getúlio foi ditador. Getúlio foi deposto. Getúlio foi senador. Getúlio voltou ao poder, por voto direto, “nos braços do povo”. E, ao contrário de outro, que, sob o efeito etílico e de forma deplorável, certo dia, foi conduzido para a cadeia, Getúlio saiu morto do Catete, com a dignidade do gaúcho dos Pampas, cujo caixão foi carregado pela comoção espontânea do povo, que ali se “quedava desamparado”.

Nesse último dia 24 não ouvi, li ou vi nenhuma referência sobre a data. Parece que a grande mídia e as “aves de rapina” ainda temem que o fantasma de Getúlio possa assombrar os poderosos, e que cada gota do seu sangue ressurja para manter acesa a chama imortal na consciência dos humildes e a “vibração sagrada para a resistência”.

Em outros tempos, mesmo durante a ditadura militar, na Praça da Alfândega, ao pé da “Carta Testamento”, a cada 24 de agosto, políticos rendiam homenagem à lembrança do Estadista. Aos poucos, entretanto, a curta memória do povo foi olvidando o legado deixado por Vargas.

Para os poderosos e para o político inescrupuloso e hábil que se vale das paixões populares para fins inconfessáveis, é bom que seja assim: buscar o esquecimento de quem, um dia, desfechou um tiro no próprio peito para não perder a dignidade e, serenamente, deu o primeiro passo no caminho da eternidade.

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