Guararema – Erner Antonio Freitas Machado

Guararema - Erner Antonio Freitas Machado
Erner Machado

Os noticiários informam que, em Guararema, interior de São Paulo, uma quadrilha, composta por mais de vinte pessoas, planejou levar a efeito assaltos à agências bancárias da pequena cidade.

A Policia Militar soube, antecipadamente, do intento e preparou-se para o enfrentamento aos assaltantes o que, efetivamente, aconteceu resultando com a frustração do plano e com onze deles mortos.

Este evento tomou conta do País e do mundo produzindo as mais variadas reações e opiniões coletivas e individuais, sobre as mortes produzidas pela polícia.

A mais frequente, das manifestações, é clássica afirmação que bandido bom é bandido morto e que a ação da força pública foi adequada a potencialidade delituosa pretendida pelos integrantes da quadrilha.

Outras, de contrários posicionamentos, mas de igual conteúdo passional são as que afirmam que não dá para compreender como foram mortas onze pessoas sem que nenhuma delas seja policial.

Oficialmente a polícia recebeu os parabéns do Presidente da República e do Governador de São Paulo.

Para este peão de estância, que tem o vício de opinar, não há o que comemorar e o olhar sobre o fato deve ser não de aplauso, por porte quem quer que seja, muito menos do poder oficial ou da sociedade civil, mas de uma profunda reflexão e de lamentos, de todos ,pela constatação cruel de que chegamos aos mais degradantes estágios como povo, como sociedade e como nação.

Somos hoje, um país no qual o trabalho, a honestidade, a seriedade, a dignidade, o respeito à vida, a cultura, a educação, a sobriedade, não tem mais lugar e não servem mais, como exemplos, a serem seguidos pela sociedade.

Em decorrência de um processo lento e constante nos vulgarizamos, perdemos referencias, nos tornamos medíocres e virou moda o sucesso fácil, as soluções imediatistas que não dependem de esforços individuais ou coletivos.

Ser honesto, ser um cavalheiro ou uma dama, virou artigo de carregação e motivo de chacota por parte da turba que debocha da virtude, da educação, da correção da honestidade.

Não temos em todos os segmentos sociais expoentes que se destaquem por capacidade, por dignidade, por inteligência, por habilidade ou por formação intelectual.

Se perguntados onde estão nossos escritores, nossos médicos, nossos advogados, nossos educadores, nossos cientistas, nossos artistas, nossos cantores, nossos músicos, nossos atletas , nossos empresários, nossos estadistas, nossos pensadores que possam ser tomados como expoentes ou que possam nos causar orgulho por seus brilhantismos, não saberemos o que dizer por absoluta falta de referências… Um profundo silencio toma lugar da resposta que deveríamos proferir.

Se perguntados quais as qualidades de nosso ensino básico, médio ou universitário, como formadores de homens e mulheres capazes de construir um novo mundo nossa resposta, de igual sorte, será um silêncio constrange.

Se perguntados, por nossos saneamento básico, por nossa saúde, por nossa força de trabalho, nas cidades e nos campos, por nossa segurança, baixaremos a cabeça envergonhados…

Se perguntados sobre nossas lideranças sociais, empresariais e políticas capazes de mudar nossa realidade como pais e como povo, novamente, o silencio será a nossa resposta.

Então, sobre as onze mortes em Guararema nada mais nos resta do que lamentar, que tenhamos descido tão profundamente na escala de valores humanos e que tenhamos sido, como sociedade e como povo, capazes de produzir fatos como estes que nos envergonham perante os demais povos do mundo.

Roguemos então que o nosso lamento pela miséria social, econômica e política a que fomos conduzidos possa transformar-se em uma alerta nacional para que na linha do tempos possamos, por algum, milagre ressurgir dos escombros produzidos por nós mesmos, e descobrirmos os caminhos que haverão de nos conduzir a novo estágio e a uma nova Nação onde impere a Liberdade, a Honestidade, o Trabalho, a Virtude, a Cultura, a Sabedoria que substituirão a generalizada e miserável condição que estamos vivendo no presente.

Lamentemos então o nosso presente e trabalhemos, árdua e coletivamente, pela construção de nosso futuro, no qual reine a paz, a harmonia, a igualdade e o respeito dentro de um Estado democrático e de Direito.

Erner Antonio Freitas Machado

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