Jamais serei apenas uma plaquinha – Sérgio Agra

JAMAIS SEREI APENAS UMA PLAQUINHA

Com Angelo no pensamento

Pesquisando aleatoriamente o Youtube descobri por acaso — o acaso, acaso existe?— o vídeo de um “filósofo do negacionismo” que afirmava: “Algum dia poderemos ser apenas uma reles plaquinha. Ele falava da morte que nos reserva na sepultura apenas uma plaquinha com a data de nascimento e a data da morte”.

Nascimento e morte? Nascimento/morte?

No interregno entre um fenômeno e outro da natureza está a Vida, mister exclusivo, particular e inalienável a cada um escrevê-la, como garatujando está aquele cara que no encontro primeiro te parecera turrão e de poucos sorrisos, porém que te estendera braços firmes e inquebrantáveis.

Aquele cara que vislumbrara incursões às montanhas mais altas ajaezadas por florestas pujantes de centenários pinheirais onde se escutava o canto de um irrequieto sabiá que há muito voou para longe…

Aquele cara, ainda que com naturais limitações, tornara-seteu parceiro nas mais loucas aventuras e conquistas de terras então desconhecidas…

Aquele cara que na tua companhia,flertando as gurias do Menino Deus, rompera as madrugadas nas mesas dos bares diante do dourado do chope espumoso, ao som do violão e da voz cálida da então desconhecida Adriana Calcanhoto…

Aquele cara que no meio da noite ao ouvir teu chamado correra às cegas para chorar junto e apaziguar a dor da indecifrável partida de tua amada primeira…

Aquele cara que apesar de falar pelos cotovelos — e como fala! — sempre te ouviu, compartilhou e respeitou o silêncio de teus sofreres, vibrando com tuas conquistas porque és agora o timoneiro dos teus navegares…

Aquele cara que telefonava para perguntar qualquer bobagem, mas no íntimo era para ouvir tua voz, saber se o teu dia fora bom e para apaziguar a saudade…

Aquele cara, meu filho, com suas imperfeições, com todas as suas humanidades, sou eu…

Anseio rever os lugares porque passei, os amigos com quem vivenciei os melhores anos de nossas vidas e com quem pranteei abraçado ante a partida de alguns que decidiram — egoístas e apressadinhos — empreender mais cedo a Viagem à Pátria Espiritual; desejo rever, abraçar e beijar,cada uma a seu tempo,as mulheres a quem amei; beber o derradeiro cálice de vinho com os amigos de porre e de sempre; anseio, Angelo, antes de ter sido apenas necessário ter te deixado a lembrança da força do meu significado.Quando eu partir que ninguém me pranteie e retarde meu Espírito em seguir para a Luz ou para o Fogo— ainda estou em dúvida — ouvindo ou Elvis, ou Sinatra ou ambos em My Way.

Ah, e não esquece: —não quero ter uma plaquinha gravada com datas e de falsos “amores eternos”.Lança-me em cinzas no azul do oceano que aprendi a querer.

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