Matheus, primeiro os meus…

Nunca se pôde ver, como nos últimos tempos, as vísceras das instituições públicas – câmaras municipais, prefeituras, assembléias, parlamento e o próprio governo federal. A livre imprensa, independente, criteriosa e imparcial, como autêntica “tomografia computadorizada”, nos desvenda, diuturnamente, quão necrosadas se encontram as células que compõem aqueles diversos segmentos.

CPI’s já demonstraram ser um “jogo de cartas marcadas”, quando não um autêntico circo onde os palhaços somos nós, o povo, o trabalhador, o cidadão que ainda tem como norte os verdadeiros valores éticos e morais.

Desnecessário esclarecer que, daqueles organismos cancerosos em que a ameaça de uma metástase é iminente, há “células” que o tempo vem demonstrando serem não apenas incorruptíveis como incansáveis regeneradoras de um organismo em processo falimentar. O Rio Grande do Sul, em que pesem as máculas causadas pelas recentes e notórias fraudes tornadas públicas, ainda detém o galardão da honorabilidade e da credibilidade de alguns de seus já históricos homens públicos, encabeçados por Pedro Simon.

Porém, não se trata de virtude o que deveria ser dever primeiro de todo o homem que lida com a coisa pública, com o bem comum. Assim, imprescindíveis as sugestões do Ministério Público no sentido de não somente aprimorar os controles internos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul como, sobretudo, tornar minuciosos e transparentes os gastos feitos com dinheiro público. Por que, então, as lideranças políticas de nossa Assembléia temem rigidez na apresentação de contas? Ora, senhores, quem não deve não teme! Alegar que será extremamente árduo e trabalhoso elaborar planilhas, requisitar notas e recibos (autênticos, é claro!) é mera falácia. Para tanto, cada gabinete tem direito a 15 funcionários em regime de CC.

Nada do que vem sendo alegado pelos deputados em contradita às sugestões do MP tem procedência. Pueril e inconsistente o argumento de que, “sendo o deputado um agente político, este tem fé pública e não precisa declarar tudo no site Transparência”. Alto lá! A fé pode ser questionada a qualquer tempo, e respeito é bom e o eleitor disso gosta, ilustres deputados!

Como sempre, o pobre e esquecido servidor público fica com a sua esmola – estagnada há mais de dez anos – para curar a sua mazela crônica básica, enquanto o Legislativo procrastina um processo que lhe traria de volta sua credibilidade.

O pouco – com Deus – é muito, repetem mais uma vez, o José, a Maria, o Antônio, a Clarice e o João, em suas tristes rotinas de pobreza e abandono. Na Assembléia, ao que parece, persiste a máxima “Matheus, primeiro os meus”. Ou não?

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