O que é bom para o João, é bom para o Joaquim – Por Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira

Jayme José de OliveiraHá cerca de três décadas, logo após a redemocratização, estabeleceu-se um debate muito acirrado entre “viúvas da ditadura” e “simpatizantes dos guerrilheiros”.

– Vocês prenderam, torturaram, mataram, até políticos como Rubens Paiva.

– E vocês? Sequestraram, roubaram, assassinaram. O tenente Alberto Mendes Júnior foi covardemente morto a coronhadas quando estava indefeso, amarrado.

– Tínhamos que nos defender, arrecadar fundos e libertar companheiros presos.

– Evitamos a cubanização e o caos em andamento.

Não tinha fim o quiproquó e não se vislumbrava a menor chance de consenso. Em nada. Adversários eram diabos, correligionários anjos.

Em dado momento, farto, larguei a pérola:
– “O que é bom para o João é bom para o Joaquim”.

Fez-se um silêncio aturdido, aproveitei para arrazoar:
– “O que elogiamos nos afins, temos o dever de admitir nos adversários; o que condenamos nos adversários, temos de execrar nos afins.”

Simples, não? Mas como é difícil…

Atualmente o quadro se repete. “Coxinhas” e “petralhas” apontam o indicador acusando, mas não admitem os próprios malfeitos, deslizes, irresponsabilidades. Lúcifer se transmuta em Belzebu com a maior naturalidade e desfaçatez.

“O que é bom para o João é bom para o Joaquim”? Lástima poucos quererem admitir e, principalmente, aplicar.

Eduardo Cunha, devido às contas na Suíça deveria renunciar à presidência da Câmara Federal. Petistas de todos os escalões, também acusados, são vítimas de “perseguição política” ou seguem lépidos e fagueiros?

Desvios de verbas ora são crime, ora imprescindíveis para a manutenção de obras sociais, como se desviar recursos ao arrepio da lei merecesse elogios. Desvio de verba é desvio de verba, seja como e para que for.

Ao admitir as “pedaladas” a presidente Dilma desafia:

– “Eu me insurjo contra o “golpismo” e suas ações conspiratórias. Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa para atacar minha honra? Quem”? (Zero Hora, 15/10/2.015)

Devagar com o andor que o santo é de barro. Para denunciar ações ilícitas não se exige reputação ilibada, é indispensável FALAR A VERDADE. Só isso, nada mais. As próprias organizações policiais disponibilizam telefones através dos quais recebem denúncias anônimas e muitos casos são assim elucidados. A delação premiada parte de acusados por prevaricações que utilizam esse subterfúgio PARA DIMINUIR A PENA, NÃO TEM REPUTAÇÃO ILIBADA NEM MORAL LIMPA.

“Recorrer ao rótulo de golpismo não é o suficiente para isentar a presidente de responsabilidade pela situação calamitosa em que o país se encontra. Não é a “oposição golpista” que está investigando as irregularidades: são instituições responsáveis, como a Polícia Federal, o Ministério Público e o Tribunal Superior Eleitoral”. (Zero Hora, 15/10/2.015)

“O que é bom para o João é bom para o Joaquim”.

Políticos corruptos de diversos partidos, empresários, intermediários, “laranjas” e inclusive quem, mesmo não se favorecendo, permitiu o tsunami – não é uma marolinha, não – são culpados por ação ou omissão por tudo que ocorreu e continua ocorrendo. Não posso crer em ignorância. Seria igualmente inadmissível não enxergar o que ocorria e ocorre bem debaixo do nariz.

Um detalhe agravante: Corrupção individual se limita a milhões, o que já é muito, corrupção institucional inicia na casa dos bilhões e pode levar um país ao debacle. Vejam a Grécia.

Lula , espertamente, tenta cooptar e aglutinar grupos sociais mediante a ameaça do fim das políticas de apoio aos mais pobres caso o indispensável ajuste fiscal seja executado: “E quais eram as coisas que a Dilma tinha de pagar? Ela fez as pedaladas para pagar o Bolsa Família. Ela fez as pedaladas para pagar a Minha Casa Minha Vida”. (Zero Hora, 14/10/2.015)

Então, segundo o ex-presidente, pode-se infringir a lei, vangloriar-se disso e admitir o fato sem ruborizar.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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