“O que ganharia a sociedade do Litoral se no mandato seguinte eu não tivesse mais o mandato?” leia entrevista exclusiva com o Deputado Federal Alceu Moreira

Jornalista Rogério Bernardes, entrevistando Deputado Alceu Moreira. Foto: Pietro Marques
"O que ganharia a sociedade do Litoral se no mandato seguinte eu não tivesse mais o mandato?" leia entrevista exclusiva com o Deputado Federal Alceu Moreira
Jornalista Rogério Bernardes, entrevistando Deputado Alceu Moreira. Foto: Pietro Marques

Reeleito em 2014 com mais de 152 mil votos, você foi o 3º deputado mais votado do Rio Grande do Sul e o 1º do PMDB gaúcho na Câmara. Qual o segredo para conquistar este espaço, tendo como base de um colégio eleitoral relativamente pequeno.

Muito trabalho, mas muito trabalho mesmo. É passar grande parte do tempo do teu mandato visitando os municípios do interior. Hoje, a gente está em quase 100% do território. Em cada lugar que tu chega tem uma base eleitoral estruturada, com gente que tem relações políticas com a gente de muitos anos.

E a outra questão é o próprio trabalho, as causas que a gente defende, principalmente na relação com a agricultura, que acaba me colocando num contingente eleitoral bastante grande, como a questão de marcação de terras de quilombolas indígenas, como o fim do emplacamento das máquinas agrícolas, como é agora também uma projeção, garantir um recurso para o aeroporto de Passo Fundo, uma coisa distante daqui, mas que a população vai lá no meu gabinete, como se tivesse uma procuração, trezentos e poucos empresários, o prefeito, os vereadores e olha, nós queremos que tu defenda isto, isto é causa, isto acaba te juntando com uma região que não é a tua, mas que te coloca no meio deste processo.

Você já afirmou que desarmar a população só interessa aos bandidos. Os números realmente mostram que após o desarmamento, a criminalidade explodiu no país. O que tem sido feito para mudar esta situação?

É, mas não somos só nós, não, é estatístico. Longe de ser apenas uma questão de gosto, voluntarismo, eu que queria, não. Qualquer país que promoveu o desarmamento e principalmente com fundamento nosso, desarmar a população pra depois implantar um sistema socialista, contra uma população indefesa, dá o que está acontecendo.  Aconteceu na Venezuela, aconteceu em qualquer outro.

Quando isto não é conseguido, a população desarmada fica completamente vulnerável. Agora o que é preciso levar em consideração é o seguinte, não pode se armar as pessoas sem disciplina, tem que ser rigorosíssimo nos estabelecimentos dos critérios de uso.

Ter armas para poder defender a vida e o seu patrimônio. Se ele for pra um bar com um revólver na cinta, mostrar pra alguém, atirar ou ameaçar alguém, ele tem que perder a arma, sem poder mais tê-la.

Quanto ao que tem sido feito, tem leis na câmara, lei geral do estatuto do desarmamento, uma lei que reformula a lei, do deputado Peninha de Santa Catarina, onde a última vez que ela foi votada na comissão especial, foi eu que fiz a defesa e não tendo condição de colocar em votação, por quê os presidentes da câmara em virtude da patrulha de direito humanos, de partidos de esquerda, acabam não permitindo a votação, a gente acabou então derivando pra gente fazer isto por área especificas.

Por exemplo, nós estamos trabalhando com a questão que os advogados possam ter arma. Aí o cara pergunta, mas por que os advogados, e não os outros? Não. Todos devem ter,  acontece que se eu não posso fazer para todos, eu vou fazer por partes.

Por que os advogados? Porque o advogado profissionalmente ele tem que defender causas de todo o jeito, e ele pode de repente ser identificado como inimigo de alguém, sujeito a perder a vida, por quê não tem como se defender. Ele está em risco maior.

O agricultor da mesma forma. O agricultor até pela distância em que ele vive, o bandido sabendo que ele não tem arma, é a bola da vez. Tem um exemplo de um que certa vez foi atacado por bandidos. Ele tinha uma espingarda, deu um tiro e os caras acabaram fugindo. No outro dia, ele ficou sabendo, que o vizinho que não tinha arma, teve o trator roubado. Ele até gritou, mas os bandidos atiraram contra sua casa, carregaram o trator e sumiram.

O que acontece hoje, o agricultor que não tinha arma, paga aluguel, pro outro que tinha. Então, a arma, é absolutamente necessária para fazer a defesa da vida e do patrimônio.

Recentemente foi sancionado o seu projeto que fortalece a Lei Maria da Penha. Você teve muitas denúncias, como surgiu esta ideia?

Muitas. Primeiro, os dados estatísticos da criminalidade da mulher, principalmente, porque a lei Maria da Penha, ela estabelece como pressuposto, que as mulheres tenham esta proteção da lei, porque é a Maria da Penha que propôs, mas o inverso é verdadeiro, se for a mulher que faz isto pro homem, ele também tem este benefício.

Então, o que aconteceu, as medidas protetivas estabelecidas pelos juízes de direito, estabelecia que o cidadão teria que ficar no mínimo de 100 metros de distância da vítima. Ele não fica, e aí não tipificava este crime com pena. E se ele não ficar, o que acontece? Foi isto que nós fizemos. Se ele não ficar naquilo que foi estabelecido pelo juiz, ele pega de três meses a dois anos de reclusão, preso. Por que se não qual é o efeito? O juiz manda ficar e ele não fica, e se ele não fica o que acontece? Nada.

Antes não acontecia nada?

Nada. Aí só se ele matasse a pessoa, se ele agredisse, aí ele iria ter outro processo pelo delito que ele cometeu. Então, a medida protetiva deixava de ser eficaz, por falta de tipificação

Como está o processo de Liberação de recurso para a ponte Giuseppe Garibaldi, que liga Imbé/Tramandaí?

Foi liberado o recurso do orçamento e na hora de fazer o orçamento, a relatoria colocou ela no Dnit. Como aquela estrada não é federal, ela é uma ligação entre dois municípios, nós passamos para o Ministério da Integração. Ela está com recurso previsto, garantido, mas ela tem que ter um PRN, um projeto de lei do executivo que passa para o Ministério da integração ou da Cidade, neste caso o da Integração. O recurso pra fazer o projeto está garantido, só o projeto.

Você não apoiou a chapa Dilma (PT)/Temer (PMDB). Por quê?

Porque nós naquela época já tínhamos consciência clara de que o sistema petista instalado no governo tinha um objetivo claro de encaminhar o Brasil numa república socialista, socialismo bolivariano, como foi instalado na Argentina antes, como estava na Bolívia, como estava na Venezuela, bastava ver a grande relação política que tinha o presidente Lula e a própria presidenta Dilma, com os ditadores.

Então, eles se dizem um país democrático, com participação popular, mas os ídolos deles são ditadores. E nós nunca quisemos ditadura. Lutamos anos e anos contra a ditadura, mas não era contra a ditadura de direita, era contra qualquer ditadura.

Nós queremos democracia, por pior que ela seja, é o melhor sistema disponível hoje. Então, nós vamos contra isto. Sem falar que naquela época, nós já tínhamos uma rede, completamente estabelecida no governo, que estabelecia que tudo podia ser liberado desde que tivesse parceria nos pagamentos.

Muitos lhe criticam nas redes sociais por apoiar o governo Temer, que tem uma grande rejeição. Não seria mais fácil seguir sem apoiar este governo, após a queda da Dilma?

Eu não apoiei o Michel Temer, porque ele era vice da Dilma. Mas, quando nós derrubamos a Dilma e assume outro governo, por que a derrubada da Dilma tinha como conseqüência exatamente isto, assume o vice. Como é que eu estabeleço, sendo do MDB, voto pelo impeachment e no dia seguinte quando o governo se apresenta, o governo que eu quis que assumisse, eu sou contra também?

Hoje, nós temos críticas profundas na figura do Presidente Michel Temer, todas relacionadas a fatos anteriores ao atual mandato. O que significa dizer que as políticas empreendidas neste mandato, quando votada a favor por nós é porque temos coerência e concordância com elas.

O que falta para o RS voltar a ser um estado modelo?

Bom. O governo Sartori, de certa forma, já deu sinalização disto. Como sabem o Sartori por origem não é um cidadão de direita, ele era do PCB, veio de lá para o MDB.

Na revolução era uma pessoa inclusive identificada com pessoas de esquerda. Por que então é que ele propõem a redução do tamanho do estado?

Porque ele está dizendo o seguinte, a sociedade gaúcha, embora tenha uma capacidade produtiva incomparável, um parque agrícola e industrial invejável por qualquer outro estado, uma produção de riqueza per capita, uma das maiores do país, tem um estado com extrema dificuldade financeira, gastando sempre mais do que arrecada?

O que significa dizer que nós temos um estado muito além do necessário, não se trata de ser pequeno ou grande, se trata de ser desnecessário. Nós obrigatoriamente teremos que tirar esta carga gigante do tamanho do estado, porque se não a sociedade não pode pagar.

Cada dia que passa, aparece mais corrupção e escândalos no mundo político. Você concorda com quem diz que isto vai sempre ocorrer, pois é o reflexo da cultura do brasileiro?

Não, o que está acontecendo neste momento é uma grande revolução ética e cultural. O que está sendo denunciado agora aconteceu em um período, principalmente as campanhas, eram financiadas com recursos de qualquer natureza, desde que tivesse origem, podia ser financiado. Todo mundo sabia que quando aparecia naquelas declarações de prestação de contas dos candidatos que as grandes empreiteiras eram as grandes financiadoras, não era por simpatia a quem quer que seja, de algum lugar ia sair.

Só que isto passava pra opinião pública e inclusive pra grande imprensa como se fosse o vento e a chuva, era uma questão natural. De uma hora para outra, por causa da Lava Jato, isto ficou criminalizado e agora, hoje, tem criminalização generalizada da política, inclusive daqueles que pegaram pra fazer campanha.

Se não, vou pegar um exemplo daqui de Osório. Imagina que dois dias antes da eleição pra vereador, um cidadão chegasse pra um candidato a vereador, uma pessoa que ele conhecesse e dissesse, olha, eu tenho aqui R$ 2 mil pra te ajudar na tua campanha. Ele ia perguntar mesmo pra esta pessoa se ela tem bons antecedentes, da onde que veio o dinheiro? Não. Ele ia pegar este dinheiro e pensar imediatamente que conseguiria fazer isto, isto e aquilo e ajudar na eleição e tentar se eleger.

Passa a eleição e dois dias depois a pessoa que deu o dinheiro aparece preso e aí perguntam pra ele e o dinheiro que tu pegou vendendo drogas? Ele diz, não, eu entreguei pro vereador tal.

Sabe qual a notícia que sai? Vereador tal tem envolvimento com traficante. Ele tem? Ou ele pegou o dinheiro lá pra campanha?

Então se tu colocar todo mundo  na mesma fotografia, tu criminaliza a política inteira, querendo achar que existe outra solução pro Brasil, que não seja via política, que existe outra solução que não seja por via democrática. Inclusive aqueles que defendem, hoje, a intervenção militar, deveriam lembrar que também na intervenção militar tínhamos muita corrupção. Ela não é a solução, com certeza não.

Tu acha que no governo militar era maior a corrupção?

Acho que maior não. Porque nada pode ser maior do que no governo petista, a corrupção sistêmica. Inclusive as formas de se arrumar os parceiros… Eu não acredito que em outros governos tivessem isto. Nós tínhamos exemplos de corrupções nos governos, mas eles eram esporádicos, como é na sociedade, uma família tem cinco filhos e tem um deles que tem problema.

Então, o culpado é o pai? E com relação aos outros, o pai não é culpado? Pode ter desvios de conduta em qualquer lugar, em qualquer tempo, mas nunca foi sistêmica. Agora dizer que não, que é melhor voltar por que não tinha nada. Não. É só quem não conheceu.

Além de não ter liberdade para nada. Imagina como seria uma greve de caminhoneiros com a revolução? Jamais fariam.

Deixe um recado final.

As pessoas talvez não percebam, mas sair da onde eu saí, lá da Sanga Funda, menino, o mais novo de uma família de sete irmãos e construir esta caminhada pra chegar a deputado federal, com 152 mil votos, ele acaba se transformando em uma ferramenta, em um instrumento de soluções pra muitas pessoas que jamais teriam condições para chegar nestas soluções, se agente não estivesse lá.

Algumas pessoas não valorizam isto, então qualquer um vai pra rede social dizer que tu é isto, que é aquilo, quer destruir a tua imagem por isto ou por aquilo. Ninguém é perfeito na vida, nós todos temos defeitos, independente da onde estivermos, só que é preciso saber o seguinte, quanto tempo levaria a sociedade pra construir uma candidatura a deputado.

Eu tenho 64 anos, comecei a fazer campanha com menos de 20. Quantas vezes tu acha, que em uma campanha, eu tive a possibilidade de estar absolutamente quebrado? Como é que eu fiquei quando não me elegi e quebrei na eleição para prefeito, chegar na minha loja. sem absolutamente nada, ter que trabalhar, morrer trabalhando pra tudo que é lado, fazer o que aparecesse na frente pra pode viver.

Nesta época, os riscos que se tem, ninguém leva em consideração. Agora, depois que o cara se constrói, vira veículo de solução para centenas de coisas do estado, inclusive para o Litoral, é só ver o volume de investimentos que tem no Litoral, com relação à outras regiões do estado e certamente tem relação com as nossas lideranças e aí as pessoas se acham no direito de qualquer um sair destruindo isto .

Então, a pessoa que inadvertidamente concorda com esta destruição, ela pode estar destruindo um patrimônio que ela mesma construiu.

Uma pergunta que posso fazer: o que ganharia a sociedade do Litoral se no mandato seguinte eu não tivesse mais o mandato?

Pergunta pra uma cidade como Pelotas que não tem deputo federal se eles não gostariam muito de ter um deputado federal. Bagé que não tem, Rio Grande, cidades grandes que eu to falando.

Aí uma pessoa sai daqui (Osório), com uma cidade com vinte poucos mil eleitores, se elege com 152 mil votos e aí várias pessoas daqui, se acham no direito do seguinte, vamos pegar este cara e vamos dizer tudo que nós possamos dele, mesmo que seja mentira, não interessa, vamos destruir. Como se eu fosse o mal, do dia pra noite eu virei o vil, que não tenho preocupação com nada, eu não gosto do pessoal daqui, quer dizer é uma coisa que não tem lógica, que as pessoas tenham critica ao meu mandato, ao meu comportamento político é absolutamente normal, agora tratar isto como uma maneira desprezível, desrespeitosa, como se a gente não tivesse valor político. Então o resto do estado reconhece  o valor político, agora a nossa cidade, alguns acham que não.

É bom que deixe claro, principalmente estabelecendo o seguinte: o bom é que aqui, quando chega na eleição, embora com toda a polarização política que nós temos entre PDT/PMDB, a gente ainda consegue fazer  uma eleição que normalmente supera os 50% os votos válidos. O que algumas pessoas dizem, não é o que a maioria das pessoas pensa.

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