Prostituta ou mercenária?- Sergio Agra

Prostituta ou mercenária?- Sergio AgraQuem leu minha crônica Um Picadeiro na Academia, publicada no dia 5 de dezembro último, se não sabia passou a conhecer o destino do projeto nascido na mesa de debates da Feira do Livro de Capão da Canoa, em sua edição do ano de 2007. Era um grupo de diletantes escritores, sobretudo, amantes da boa literatura que idearam a criação de uma associação. Nascia ali uma congregação com o objetivo único: a troca de experiências, sugestões, aconselhamentos, debates sobre a leitura de obras de autores consagrados e na escrita criativa no gênero vocacional de cada um. Apenas isso!

Porém, forças e estranhos com interesses voltados exclusivamente para si próprios se sobrepuseram aos princípios basilares daquele projeto original. A “megalomania” (a finesse me recomenda esta expressão!) subiu à cabeça de dois ou três “illuminatti”, e num piscar de olhos o que era a concepção de uma virginal adolescente transformou-senuma presunçosa “Cinderela”, a exigir direitos a “baile, carruagem de abóbora e sapatinhos com saltos de cristal”.

No mágico encontro daquela longínqua Feira do Livro eu ali me encontrava, na condição de idealizador e fundador da então confraria. Longe de mim a pieguice.As palavras de O Profeta à mulher que o indagava sobre os filhos vêm ao encontro de como me posicionei na condição de pai e na de como me posiciono como escritor e de ativista literário e cultural:

Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força para que suas flechas se projetem, rápidase para longe
”.

De 20 a 26 de setembro último transcorreu a 12ª edição da Feira do Livro de Capão da Canoa, nascedouro da hoje “Cinderela”. Durante o evento, inúmeras são as palestras e consequentes sessões de autógrafos de renomados e de incipientes autores. Os já reconhecidos escritores também veem na Feira a oportunidade de divulgar ainda mais suas obras e ter um contato mais próximo com o público, sobretudo o estudante de escolas. Passaram pelos palcos em suas diversas edições Luiz Fernando Verissimo, Sergio Napp, Jane Tutikian, Carlos Urbim, Ruy Carlos Ostermann, Valesca de Assis, o então novel Historiador e Pesquisador Rodrigo Trespach, Mario Pirata, dentre tantos outros. O palco da Feira do Livro de Capão da Canoa serviu para o lançamento de um sem número de obras solo e de antologias, como as de “Cinderela”. O mesmo palco “suportou” por mais de hora o bibibibebebé de “Cinderela”, de“Drizella”e “Anastasia Tremaine”, dos “Ratinhos” e da “Fada Madrinha”contando quando foi a sua primeira vez. Na escrita, por supuesto. Aquilo sim, era um festival de pieguice e de clichezão!

Em 2019 não poderia ser diferente. “Cinderela” uma vez mais recebeu o já tradicional convite. Afinal, ali fora o seu berço. Seria como o acolhimento de mãe à filha pródiga. No entanto, as penas do pavão cresceram mais que a cauda. E o pavão “obrou” no ninho em que havia nascido. Além do direito à venda e sessão de autógrafos de recente antologia………………… pasmem,……………. “Cinderela” cobrou cachê pela sua presença com o alegre bando de serviçais!

Para quem teve a paciência de me ler até este parágrafo, certamente há de se estar perguntado: qual a relação do título com a abordagem desta crônica?

Esclareço:

Prostituta profissional é a mulher que se sustentaatravés da oferta de serviços sexuais; mulher que exerce a prostituição. São garotas de programa, na sua maioria, vindas da pobreza e sem estudo, que encontraram no exercício da prostituição o sustentáculo para se vestirem, comerem, sobreviverem, enfim,

Mercenária é a que só quer saber de dinheiro; que pra ter relacionamentos com um homem (namorado, noivo, esposo, amante, etc.), necessita que estes gastem muito, mas muito dinheiro com elas.

Haverá quem diga que ultrapassei os limites. Acredito! Assim como desejo e quero crer que “Cinderela”, aquela virginal adolescente, não seja nem uma tampouco outra. Ela não prescinde disso!

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