Um pai em saída – Por Dom Jaime Pedro Kohl

IMG_1180-195x300111111111O Evangelho deste final de semana trás para nossa reflexão o capítulo 15 de Lucas. Com três parábolas expressa aquilo que Deus mais deseja para toda a pessoa: a conversão. Meditaremos a do pai misericordioso, para perceber o que Deus é capaz de fazer para nos atrair a si e nos aproximar dos irmãos.

A recompensa pelo bem a quem faz o bem, e a recompensa pelo mal a quem faz o mal, lei da retribuição, era muito presente no tecido cultural judaico. A parábola transgride essa lei revelando o excessivo amor do pai. Os dois filhos não conseguem ir além da lógica do dar e do receber. O mais novo volta por fome. O mais velho reclama o cabrito.

No início da narração, o pai limita-se a ouvir o pedido do filho mais novo, não investiga as razões. Depois da descrição da vida dissoluta do filho, o pai entra novamente em cena com alguns gestos incríveis: vê o filho chegar de longe, sente compaixão, vai ao encontro dele, agarra-se-lhe ao pescoço e beija-o. Antecipa-se ao pedido e manda os servos buscar a melhor túnica, lhe pôr o anel no dedo e as sandálias nos pés, manda matar o novilho gordo e organizar a festa. Ele “encheu-se de compaixão” com esse filho caçula.

O pai ama visceralmente o filho perdido, até sentir por ele a paixão humana mais profunda. No centro da parábola está a misericórdia do pai, não sua bondade. A prova mais dura para o pai é a raiva do filho mais velho e a acusação de ser avarento: “nem sequer um cabrito para festejar com os amigos”.

A misericórdia do pai é ilimitada. A ternura com que se dirige ao filho mais velho é imensa: embora ele nunca o tenha chamado de ‘pai’, ele o chama de ‘meu filho’, um termo que denota uma relação íntima.

A conversão mais profunda que o pai esperava não é a do filho mais novo, que voltou para casa somente porque de outra forma morreria de fome, mas principalmente do filho mais velho, incapaz de reconhecer o pai e o irmão.

Antes de “uma Igreja em saída…”, esta parábola revela “um pai em saída”: pela sua excessiva compaixão para com os filhos, não espera por eles no centro da mesa, mas sai ao encontro de ambos para assistí-los com sua misericórdia.

Essa é uma parábola aberta, que deixa aos ouvintes a responsabilidade pelas suas escolhas: estabelecer relações de acordo com a justiça distributiva ou inaugurar o caminho tortuoso da graça e da misericórdia.

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osóriodomjaimep@terra.com.br

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